NOTIFICAÇÃO


NOTIFICAÇÃO DE DESPEJO

(com licença poética a Joelson Oliveira, autor do original despejo)

Eu presencio as lamúrias geradas em meio ao descampado E os minutos de abandono e tormento no ventre grande da terra Abundante e descuidada, cercada de bambus nas beiradas a gosto dos ocupantes.

Eu presencio este abril, a apreensão inevitável dos clamores Espalhando a claridade morna do mundo E as nascentes fluentes do pânico rascunhando O desejo proibido das nossas crianças.

Eu presencio contrário ao movimento do orvalho Sob os sapatos lustrosos da pátria, antes de entardecer E cada um dos mandatos expedidos com exatidão para essa inevitável hora.

Eu presencio a proximidade indecifrável da dor e suas correntes Interpretadas no pranto que encharca as vértebras da sombra Crescendo sob as tábuas derrubadas Eu presencio as desnorteadas espigas do sonho Entranhadas no vácuo da terra, arraigadas de ódio, Perdidas no seu interior, em funestos centímetros.

Eu presencio a chama e a dor desta lição onde se aprende A recomeçar todo dia como os raios de sol e os frutos maduros E a chuva, fecundando sempre de novo a primavera.

Eu presencio os derradeiros sentidos da esperança Trajando de claridade a embriaguez dos crisântemos Que bailam ainda assim como o povo, nos dedos esgarçados da chuva...

(Referência ao despejo dos “sem terra”, ocupação “bairro Drummond”, Itabira-MG)

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