DESPEJO(Autor: Jelson Oliveira)
"Eu testemunho o silêncio estendido sobre a relva
e as horas de solidão e morte sobre o corpo grande da terra
cativa e desusada, farpada nas bordas como convém.
Eu testemunho, este ano, a sequela incurável dos gritos
Cortando a escuridão agreste do mundo
E os rios imensos do medo biografando
O sonho proibido dos nossos meninos.
Eu testemunho contra a inércia do orvalho
Sob os coturnos malditos da pátria, antes de amanhecer
E cada um dos fuzis azeitados com precisão
para esta maligna hora.
Eu testemunho a semelhança indelével da dor e suas algemas
Traduzidas no pranto que molha as ossaturas da sombra
Crescendo sob as lonas incendiadas.
Eu testemunho as desamparadas sementes de sonho
Entresilhadas no abandono da terra, atrofiadas de ódio.
Perdidas por dentro, em fúnebres centímetros.
Eu testemunho o fogo e a dor deste ofício onde se aprende
A recomeçar todo dia como o sol e os pomos maduros
E o sereno, fecundando sempre de novo a primavera.
E testemunho os exatos sentidos da esperança
Vestindo de claridade a embriguez dos lírios
Que dançam ainda assim como o povo, nos dedos miúdos da chuva..."
(Livro: Conflitos no Campo-Brasil 2003-CPT)
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