"Privacidade Hackeada" - Um passo além dos dados

Imagem divulgação: Netflix.

    A simples ideia de se perceber observado por algo ou alguma coisa que pode te escutar e prever suas ações, o deixa incomodado? O que você acha de máquinas, por 24 horas, escutar, ler e compreender seus gostos, suas preferências e suas atividades tanto online, quanto offline? Estes questionamentos mostra a ponta do iceberg no que tange a profundidade do documentário The Great Hack ou para a tradução ao português: Privacidade Hackeada, disponível na Netflix. Um enredo completo sobre tecnologia, informação, dados, crimes, democracia e pessoas

    Já é de se preocupar quando ao fato da mudança de concepção dos modos online e offline. Atualmente dizemos estar online quando ativos em algum aplicativo ou até mesmo em alguma atividade online, quando postagens dizem que “o pai tá on ou a mãe tá on” não passam de distrações na internet. Brincadeiras à parte, o fato de estar offline concebido atualmente remete a ideia de inseridos na vida diária pré-redes sociais e quando online quer dizer nas pessoas conectadas à internet. Fato um tanto questionador...

    Porque quando se nota, que nossa realidade factual é uma atividade a ser entendida na perspectiva do offline entende-se que algo novo ocorre e, hoje, já não é apenas um veículo que conduz nossas vidas e nos conecta a outras pessoas, de fato, uma realidade inovadora, a qual todas as pessoas estão reféns: a tecnologia e suas derivações. 

    A trigésima primeira pesquisa da FGV do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada (2021) ¹ informa, que há no brasil cerca de 440 milhões de aparelhos e dispositivos eletrônicos entre eles: celulares, tablets, notebooks e smartphones, quando se equaliza os dados pode-se considerar que para cada um habitante há dois aparelhos. Neste montante de máquinas existe uma estimativa de que todas elas estão “lendo”, ou melhor, estudando o comportamento humano.

    Neste momento ao acessar alguma conta ou algum aplicativo algoritmos de diversos modelos e formatos estão processando essas informações e fazendo delas cálculos que resultarão em conclusões e fatos, que podem construir protótipos de perfis onde é possível extrair informações valiosas de todas as pessoas.

    No filme-documentário “Privacidade Hackeada” (The Grate Hack) ele expõe o percurso da utilização de dados nas eleições dos EUA, Brasil, Mianmar e ao Brexit. Um dos pioneiros na utilização de dados, Alexander Nix, CEO da Cambridge Analytica explica: Que o “poder dos grandes dados psicográficos” exerce influência decisória na tomada de decisões. Neste processo, a Cambridge Anlytica se une a campanha de Trump e lhe oferece uma proposta precisa de como manobrar e influenciar o posicionamento dos futuros eleitores. O Ceo relata que foi gasto aproximadamente 14 meses antes da campanha de Ted Cruz para coletar uma quantidade de dados suficientes em uma pesquisa onde os eleitores e os responsáveis pela captação destes estavam dispostos a entregar à equipe do Trump toda informação necessária para eleger o então futuro presidente dos EUA.

Como tudo acontece    

Foto divulgação - Brittany Kaiser


    Cá pra nois, a pesquisa foi elaborada com o caráter persuasivo (penso, eu, escritor), uma vez, que a partir da observação do comportamento das pessoas, usando os meios digitais, é possível saber suas preferências e manipular possíveis ações e posicionamentos. Este processo se deu pela coleta, filtragem, separação e direcionamento de informações, mesmo que fossem consideradas irregulares e toda informações impulsionada fosse fakenews, a ideia de doutrinar as pessoas havia atingido o objetivo de doutrinar um público específico. Uma vez pela análise de dados, outra vez pela persuasão tecnológica proposta no visual dos aplicativos/sites. No caso do filme os usuários utilizados foram os do Facebook onde responderam questionários de maneira indireta e indutiva. Além do mais, a coleta feita pela empresa não foi diretamente autorizada pelos usuários. Desta forma, estes dados e as conclusões advindas do processo de avaliação foram entregues à campanha da equipe do candidato Trump, culminando ao final na vitória dele.

    Neste processo, a empresa entendeu que estavam no topo do mundo e poderia continuar a surfar em dinheiro e progresso. A Cambridge Analytica conseguiu coletar muitas informações através do Facebook como: likes, profissões, publicações, gostos, preferências, estilo de vida, seguimentos políticos e direcionaram as publicações da campanha eleitoral de acordo com o desejo e as necessidades dos eleitores. Mesmo que toda campanha fosse feita de forma antiética, e um dos responsáveis assumisse, no documentário, a falta de ética. 

    Brittany Kaiser, ex-presidente da Cambridge Analytica, foi o tijolo podre do castelo desta multinacional. Uma vez que sua confissão sobre o uso indevido dos dados pela empresa Cambridge no Facebook deu início a uma série de investigações e questionamentos sobre as ações da empresa. A então presidenta da Cambridge Analytica possuía a chave do apartamento na Casa Branca de Steve Bannon, assessor político estadunidense, o qual serviu como assistente do presidente e estrategista-chefe da Casa Branca.  A tática, segundo Brittany, seria após a conquista daqueles indivíduos, que já estavam dentro da lógica de persuasão induzidos a crer que o melhor candidato seria Donald Trump, era atingir pessoas persuasíveis, ou seja, àqueles que ainda poderiam ser manipulados. Segundo a ex presidenta a ideia era manipular todo tipo de informação no foco do objetivo contra os adversários da campanha do Trump.

Imagem Hacker 
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    Desta forma todo enredo do filme culmina em processos civis, descobrimentos de inúmeros fakenews, incrementos e reações dos envolvidos na campanha eleitoral e da empresa Cambridge Analytica. Um novo olhar sobre a política passou a ser notado por diferentes ângulos. No enredo é apresentado um novo jeito de colocar em risco a democracia. 








Fontes: 
¹https://static.poder360.com.br/2021/05/pesquisa-FGV-dispositivos-digitais.pdf
Netflix: The Great Haker - Privacidade Hakeada

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