Mudanças socioculturais e os desafios para a Vida Religiosa
Mudanças
Socioculturais e os desafios para a Vida Religiosa. Foi este o tema
assessorado, na manhã desta quinta, 02 de novembro, pela professora da PUC de
Campinas e doutora em Ciências Sociais e Ciências da Religião, Brenda Carranza,
no Seminário de Comunicação para a Vida Religiosa que ocorreu em São Paulo, na
Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM).
Provocar
para crescer é entender que mudanças acontecem, mesmo quando a tradição pede
para prosseguir com as faltas e os acertos. As mudanças tecnológicas fazem-se
notórias e perceptíveis aos meios religiosos, talvez seja uma alerta para
mudanças necessárias para reavivar o sentido cristão em um mundo de avanços
tecnológicos.
De
acordo com a assessora Brenda Carranza, a vida religiosa do século XXI se
depara com profundas mudanças entre indivíduos, sociedade e novas plataformas
de comunicação. Entre os religiosos muito se discute sobre o decréscimo das
vocações, as crises na Vida Religiosa e o desinteresse dos jovens aos ritos
católicos. A socióloga desafia com questões para o esclarecimento entre a
Igreja e as novas tecnológicas e as mudanças socioculturais.
Brenda
Carranza retrata sobre “Comunicação e Mudanças Socioculturais” e lança quatro
perguntas aos participantes a respeito de como a Igreja deve pensar as mudanças
tecnológicas e suas respectivas relações interativas e a utilização dos novos
meios digitais. O que é possível ver? Sobre o que se vê, o que incomoda? O que
está por vir? Quais desafios são perceptivos? Em prévia pode-se constatar o
despreparo humano eclesial e alguns reparos falidos para a nova organização
sociocultural.
A
mudança tecnocientífica propõe mudar a lógica tradicional familiar, econômica,
social, psíquica e a concepção religiosa de cada ser humano. A Igreja na era da tecnociência quer se
posicionar e se envolver para evangelizar com eficácia e profundidade. Pois a
neocivilização “transforma a sociedade diariamente, como também altera a ideia
de Deus e a relação que cada indivíduo estabelece com ele e as religiões”
afirma Brenda Carranza. Contra a ideia
de ateísmo das massas, para ela é notável a existência de grande número de
pessoas que buscam relações com o transcendente, mas criam nos seus moldes
maneiras próprias de se relacionar, sem a necessidade de um seguimento
tradicional.
O poder do click
−“Descartes disse: penso logo existo, isso num tipo de racionalidade. Hoje
dizemos: Posto: logo existo”, ressalta Brenda. Porque, para existir, segundo
ela, o indivíduo precisa evidenciar-se no tempo e no espaço presente e em
seguida ser pontuado com o click ou não. Fato que traz a ideia da
superficialidade e aceitação. As novas lógicas culturais trazem também novas
formas de relacionamentos divergindo de todas as outras que foram criadas e
pensadas na década de 60. Neste momento a junção entre imagem, som e conteúdos nutrem
o intelecto e imaginação de todos os indivíduos que se sentem satisfeitos e
realizados quando entram em contato com as mídias.
Segundo
a socióloga, a junção interativa de elementos midiáticos fez-se próxima das
pessoas através dos meios atuais e sofrem alterações, por parte dos indivíduos,
seja na construção do conhecimento coletivo, no aprimoramento de softwares, ou
no feedback das redes sociais. Para muitos, as redes se tonaram simples e
ineficazes meios, mas na realidade muitas mudanças foram conquistadas através
das redes sociais, como é o caso do movimento yo soy 132 (movimento estudantil
no México em favor do voto consciente). “É um exemplo nítido de mudanças
difundidas através dos meios tecnocientíficos para mudanças na sociedade”
recorda Brenda.
Desafios
– Para Brenda, o mundo dos hardwares e suas complexas funções trazem para a
sociedade a complexidade de compreender desde o seu uso a sua manutenção.
Manejar e utilizar estes equipamentos pela Igreja é um desafio. Em seguida,
observa-se que os domínios dos hardwares estão centralizados em pequenas áreas
e centros de informação. Porém “nas
periferias tendências empreendedoras mostram que a internet influência outras
capacidades técnicas, como: salões de beleza, Igrejas neopentecostais e
Lan-Hauses”. Cada fenômeno com uma função específica: a) os novos meios
salientam nas pessoas a ideia do belo e a estabilidade aparente; b) a teologia
da prosperidade e as promessas milagrosas, c) o poder da interação e a visão do
indivíduo, que participa da construção da opinião coletiva.
As
novas concepções hierárquicas também modificam o relacionamento das classes,
pois “as novas gerações trazem o poder da informação antecipada e diante de
algum erro, seja do professor, do padre ou do político a criança ou o
adolescente tem a resposta correta obtida através dos sites de pesquisa”. Os
dedos decidem o que acessar e qual conteúdo seguir como também a opinião de
cada indivíduo.
A
nova cultura é apresentada na ideia de consumo imbuída na tríade: comunicação,
Informação e conhecimento. Sua simplicidade encanta. Porque utiliza aquilo que
a religião, durante séculos, utilizou para difundir o transcendente, visto que
dá sentido ao uso dos objetos e descreve a realidade simbolicamente. A produção de sentido é arma mais usada, por
isso concorre diretamente não só com a religião, mas também com a política e a
escola de forma clara, criativa e concatenada.
Técnicas do espetáculo
− “Como unir convicções profundas com técnicas de marketing e espetáculo? Como
deixar e modificar anos de história e tradição para compor uma nova realidade
interativa?” Tais perguntas foram suscitadas no intuito de alertar que a
realidade transpassa o tradicional, sem deixar de ressaltar que existe uma
busca pelo transcendente por todos, mas de outra forma, talvez com maior
criatividade e entusiasmo enfrentando o os grandes impactos das novas técnicas
de mídia.
A
assessora encerrou sua fala com o vídeo de Eduardo Galeano que reflete sobre a
utopia em tempos de novas tecnologias, em tempos de mudança: “Que tal se delirarmos por um tempinho? Que
acham se fixarmos nossos olhos mais além da infâmia? Para imaginar outro mundo
possível? O ar estará limpo de todo veneno que não venha dos medos humanos e
das humanas paixões. As pessoas não serão dirigidas pelos automóveis os
automóveis serão esmagados pelos cães e os homens não serão programados pelo
computador nem serão comprados pelos supermercados… e a TV deixará de ser um
membro mais importante da família…” Eduardo Galeano - El Derecho al Delírio.
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